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quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Veredas da Arte

Tony Allen

Há poucos dias atrás num apelo 'marqueteiro' e puramente comercial a cidade da Praia nos impunha um tal Akon, que por arrastão da imperiosa necessidade de modelos/ídolos,  fenómeno próprio da adolescência, levava na onda barbudos e 'cotas' para ouvir em 'play back' um artista que desconheço de todo mas que merece o meu respeito. Como diria o Gilberto Gil todo o estilo musical cumpre uma 'função social' específica e, só por isso, a principio já é respeitável.

Eu que já havia me rendido aos encantos do 'Afrobeat' de Fela Kuti estando um bocado a leste das 'coisas do mundo', um pouco como resultado da tal suposta 'dolência crioula' mas, maioritariamente pela ausência de informação de qualidade que por aqui nos é imposto, nem sonhava que poderia ter o previlêgio de ouvir e ver aquele que foi seu produtor musical durante uma década.

Ontem a noite o CCF nos brindava um 'show' memorável no sentido mais lato da expressão. O Tony Allen, co-fundador do ritmo 'Afrobeat', um homem baixote de 70 anos de idade, parco nas palavras, tanto no dialogo com o público como nas letras da sua música, atrás da sua beteria e acompanhado por cinco extraordinários músicos hipnotizou uma plateia, maioritariamente europeia.  O cabo-verdianos eram meia dúzia de apaixonados e curiosos, público esse que espero que cresça em jeito de conta-mão e a revés da alienação que se faz praxis. Seja como for o que se viu e ouviu foi ARTE no verdadeiro sentido da palavra, muito dele improvisado. Arte de um homem que participou na invenção de um estilo musical e que já fez cerca de 40 discos. 

Em Outubro o mesmo CCF já havia oferecido à esta cidade um outro espectáculo de enorme qualidade, a ópera 'Mozart Point Final'. Salvaguardando o respeito e o carinho pelos bons espectáclulos de 2010, entre eles um bom punhado de artistas nacionais, não hesitaria em classificar os shows do Tony Allen e o 'Mozart Point Final' como os dois melhores do ano. Modesta e leiga opinião. Essa música não sai dos meus ouvidos e dá um imenso prazer...ainda a oiço!

OL


quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Veredas da Poesia

Os nomes da curvatura
Não era a primeira vez que se sentia Rosa. Tinha um ‘s’ minúsculo pachorrentamente sentado no bico do seio direito, aquele que melhor se dava aos lábios, mais por não se sabe bem o quê do que por destreza.

‘S’ é curvatura que se esquiva a linha. Linha que do falo nunca foi essência. Embora, a verdade não seja exactamente a tal cadela, é verdade que rosa e sexo são formas que contém em si muita curvatura. Estaria ali a essência do inominável? Pois, enfadonha seria  ela, a vida, que melhor se consagra nos suspiros (gozo é desejo renovado!) se uma inflexível linha fosse. Nem eros nem thanatos nos inspiraria um tal traço. É, no entanto, no entremeio dessa ausência que se descobriu ‘s’ e, como rosa – que não é nome com que se possa baptizar uma menina - no invisível templo desdobra-se em macias sinuosidades.

…foi então que, insinuante, a Lua, que é Puta por inequívoca vocação e devassa praxis (cabível em qualquer moral) se despontou como curvante e derradeira metáfora às sobras do ‘s’, do qual só restam vagas reminiscências (memórias odoríferas da Rosa, a tal menina sem nome) …
OL