antes...
não é o passado e não é o tempo mítico...este que tanto nos falta por aqui - "nós" hipnotizados por um falso realismo como se houvesse uma realidade universal - "nós" que mal percebemos que as construções humanas são do ambito do "mundo individual" e o resto, que não é resto, porque é tão necessário como as nossas construções e subjectivações, são pontes que nos levam a esse outro: nosso irmão (porque "filho da mesma natureza"...). O caldo de "tudo isso" deve nos humanizar se a isso nos acedermos...
...antes é a nossa infância e veja que não dizemos "era" porque toda a infância que não se perpetua nos estrangula...
minguarda...
naquele templo...depois de uma dupla corrida de 6 km, a primeira mais amena (não obstante o desconforto de acordar de madrugada), com alguma distraçcão pelo meio a pretexto de cromos, revistas de quadradinhos, os primeiros salpicos de namoros e muita má vontade dos "grandes" que, mesmo com a "juvita" vazia nos negavam a "boleia", as cabras tinham que beber. Isso a hora da "minguarda". Era assim que, com muito cansaço e o "natural" receio das pedras misteriosas que nos poderiam acertar a cuca passavamos desabridos em baixo das árvores com os baldes de água fresca, que vazavam com o balanço do andar e da corrida desajeitada...
o poema...
...a voz ritmada do meu pai ao meio-do-dia recontando as infindáveis estórias do vale, da ilha e do mundo é um acalento... essa mesma voz outrora severa hoje repleto de serenidade e de afetco nos faz adormecer: a mim e a ele...do fundo da colcha onírica embalado pela fresca brisa (sempre presente naquele corredor) adivinho o sorriso vigilante a um tempo afectivo e trocista da minha mãe...
....
"Os pássaros haviam partido para o sul e a brisa ao meio-dia já era um rio. Um inconstante e nostálgico rio. Dormiam as almas dos homens a seu tempo. Pudessem as almas dos homens serem brancas como os pássaros ao meio-dia. Um invisível e cristalino rio percorria em silêncio a alma do vale. O riacho cristalino percorria com seu cântico exagerado a sinuosa alma do vale. O riacho-alma do vale em breve seria ausêcia aos olhos dos homens ao meio-dia. A anciã não anunciava mas descrevia as profecias à alma dos homens. Os homens de olhos grandes (que não eram verdes como as da anciã) anuiam às suas palavras tácitas. Uma bela moça com uma afiada foice, delicadamente, oferecia a morte aos sinuosos homens do vale. Não era a foice propriamente o fantasma que o medo dos homens pintava ao meio-dia. Era apenas uma foice que se oferecia à alma dos homens. Delicadamente lhe agradecíamos. Nos bastava apenas o branco e passageiro sono (como a alma sinuosa dos brancos pássaros). Hoje. Ao meio dia." OL
minguarda...
naquele templo...depois de uma dupla corrida de 6 km, a primeira mais amena (não obstante o desconforto de acordar de madrugada), com alguma distraçcão pelo meio a pretexto de cromos, revistas de quadradinhos, os primeiros salpicos de namoros e muita má vontade dos "grandes" que, mesmo com a "juvita" vazia nos negavam a "boleia", as cabras tinham que beber. Isso a hora da "minguarda". Era assim que, com muito cansaço e o "natural" receio das pedras misteriosas que nos poderiam acertar a cuca passavamos desabridos em baixo das árvores com os baldes de água fresca, que vazavam com o balanço do andar e da corrida desajeitada...
o poema...
...a voz ritmada do meu pai ao meio-do-dia recontando as infindáveis estórias do vale, da ilha e do mundo é um acalento... essa mesma voz outrora severa hoje repleto de serenidade e de afetco nos faz adormecer: a mim e a ele...do fundo da colcha onírica embalado pela fresca brisa (sempre presente naquele corredor) adivinho o sorriso vigilante a um tempo afectivo e trocista da minha mãe...
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"Os pássaros haviam partido para o sul e a brisa ao meio-dia já era um rio. Um inconstante e nostálgico rio. Dormiam as almas dos homens a seu tempo. Pudessem as almas dos homens serem brancas como os pássaros ao meio-dia. Um invisível e cristalino rio percorria em silêncio a alma do vale. O riacho cristalino percorria com seu cântico exagerado a sinuosa alma do vale. O riacho-alma do vale em breve seria ausêcia aos olhos dos homens ao meio-dia. A anciã não anunciava mas descrevia as profecias à alma dos homens. Os homens de olhos grandes (que não eram verdes como as da anciã) anuiam às suas palavras tácitas. Uma bela moça com uma afiada foice, delicadamente, oferecia a morte aos sinuosos homens do vale. Não era a foice propriamente o fantasma que o medo dos homens pintava ao meio-dia. Era apenas uma foice que se oferecia à alma dos homens. Delicadamente lhe agradecíamos. Nos bastava apenas o branco e passageiro sono (como a alma sinuosa dos brancos pássaros). Hoje. Ao meio dia." OL
* Figura "mitológica" da ilha de Santo Antão, uma espécie de fantasma que habita as árvores e apedreja as pessoas ao meio do dia.
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