Pouco antes das sete da manhã lá estava ele, solitariamente pousado do lado da sua mochila de merenda. Pelo matutino e pela postura digna tinha pose de patrão. Não sei porquê mas via tristeza naquela cena. Adivinhei seus olhos pequenos com um misto de candura e de tristeza. Os meus se encheram de lágrimas…mergulhei fundo nos poucos fragmentos da história que me relatara naquele dia, enquanto arrumávamos os objectos no carro. Falou da morte da sua primeira esposa, de seus filhos, da sua casa clandestina, de como comprou e perdeu o terreno e de como voltou a recuperá-lo com muita luta e com a ajuda de um líder político, um “doutor”. “Imagina, dissera ele, paguei caro. Na altura custou-me cem mil escudos, cem mil escudos! Mas hoje, graças a Deus não pago renda”.
Aos sessenta anos de idade ele se apresentou no meu gabinete para assinar o seu primeiro contrato de trabalho. Trabalhara desde a adolescência, é claro. Deixou para trás a sua ilha do Fogo para habitar uma das muitas encostas da Cidade da Praia. Criou os filhos, adquiriu seu terreno no sector dominante da imobiliária clandestina da cidade, alojou e cuidou da sua família e, pela primeira vez, aos sessenta anos, assinara um contrato formal de trabalho e fora inscrito no sistema de segurança social. O brilho nos seus olhos era de vitória.
Conquista, progressão, realização. Que vitória poderia glorificar um homem que faz uma carreira completa de servente de construção civil ,com um salário obviamente miserável? Perguntava no meu íntimo. Porém, meus pensamentos são meros subprodutos das minhas idiossincrasias e nunca poderão explicar a hipotética alegria que vira na simplicidade do rosto daquele homem. Lembrei-me das mãos calejadas do meu amigo e vizinho de Santo Antão naquele café, no centro de Luxemburgo, e dos seus mil e quinhentos euros mensais, mas tratei logo de afastar para os recônditos da minha maldita mente aquela memória, para salvar meu dia. Afinal, antes de tudo está lá a DGCI a nossa espera e espreita e, isso é o primordial.
Desculpem-me a expressão incontornável mas, a “grande merda” é que no dia seguinte a paquete veio me informar, cerimoniosamente, que só emitiam o NIF daqueles operários mediante a apresentação, também, dos seus números de telefone e que não necessariamente teria que ser um número fixo, que poderia ser o TM. Perante meu silêncio e indiferença ela fez meia volta e saiu…
Cinco meses depois, a nota que redigi a seguir ainda está na minha gaveta…
Custa-me entrar no sono regenerador com tanto ruído na noite, que deveria ser “calada” mas não é. O que efectivamente estará “calado” há de ser o código de postura e alguns “homens” que deveriam ser autoridades mas não são. Os ruídos oscilam entre uma “música”(?) tão psicótica quanto suas motivações e usos e, o ricochete dos tiros de “boca-bédjo”.
Porque festejamos tanto? Comemoramos? O quê?
Confesso que adoro uma bela festa. Ou, talvez, seja “os efeitos paraíso perdido” do tempo em que as festas eram sinónimos de convivência e de amizade.
Em todos os bairros miseráveis acontecem dezenas de festas mensalmente. Pessoas, principalmente do sexo masculino, queimam suas energias noite dentro ingerindo quantidades absurdas de álcool da pior qualidade, castigam os benditos tímpanos com uma carga intolerável de decibéis, brigam e se agridem por motivos banais. Ou, na melhor das hipóteses prometem carinhosamente facadas e morte sangrenta uns aos outros. Tudo isso a ser pago por todos nós: no tratamento de alcoólatras, de toxicodependentes, de tumores do sistema digestivo, de hipertensos, de ferimentos e deficiências, no cuidado aos órfãos…
A dança que já foi um meio agradável de expressão corporal, de sensualidade e de sedução foi transformada numa simulação banal e psicótica de actos sexuais. Sim porque sexo é sexo, dança é dança, cada um com seu tempo e seu lugar. Me considero uma pessoa de mente aberta. Aceitaria de bom grado casas nocturnas de streep teese, de sexo ao vivo, de prostituição e outros, dentro de regras previamente estabelecidas, que respeitassem as opções e os valores de todos. Porem, o “esfrega esfrega” mecânico que as pessoas se impõem é, em geral, totalmente destituído de qualquer investimento sexual, no verdadeiro sentido do termo, mormente de investimento afectivo, que é o substrato das relações humanas. Em primeiro lugar porque é um padrão de atitudes alienado, em segundo porque bloqueia a convivência descontraída entre as pessoas numa suposta festa e, em terceiro, por ser um modismo leviano, que como todo o modismo fixa padrões de comportamento em pessoas que supostamente pensam e agem de modos diferentes.
A erradicação do “catch body”, da dengue, do desemprego? Comemoramos o exercício da cidadania com a observação mínima dos direitos consagrados na “Declaração Universal dos Direitos do Homem” e na “Constituição de Cabo Verde”?
No ano 2000, ano em que supostamente o mundo deveria acabar, quando abandonei as asas protectoras dos meus familiares e quis ser um “técnico” abandonei estrategicamente, também, as paredes da instituição em que trabalhava. Deixei no “gabinete” a alvura do “jaleco” e me aventurei pelos becos tortuosos dos subúrbios de Mindelo. Senti o bafo pestilento de cubículos, me cozinhei em casas de latão, com pó de todas as cores “pintei” minha bela colecção de sapatos adquiridos a dedo no centro cosmopolita de São Paulo, olhei fixamente nos olhos incrédulos das pessoas que viam em mim mais “um demagogo”, um “doutor”, um “institucionalizador”, vi suas panelas milenares vazias e a cinza antiga nos seus fogões a lenha e no botijão de gás vazio, me ajoelhei sobre meu “blue jeans” e minha camisa branca se deitou no chão infestado para falar com pessoas em buracos improváveis, sob botes, sob chapas de tambor e sobre “cómodos inimagináveis”.
Descobri por casmurrice um outro Cabo Verde que convenientemente não me tinham apresentado. Pois, em nada se parecia com Praça Nova, Pimps(?), High Step(?), Je t’aime…Em nada se parecia com a minha cama macia, com a mesa interminável do café da minha mãe, em nada se parecia com as férias idílicas de verão e com a maciez perfumada e sorridente das meninas que me encantavam.
Dez anos depois faço questão de passear lentamente pelos subúrbios da Praia. Sem missão nenhuma e sem idealismo. Olho para as pessoas, suas casas, suas ruelas e becos, seus contentores transbordantes, olho para seus olhos, olho para a combinação meninos & cachorros & lixo & moscas & miséria. Olho, e é sempre o mesmo espanto. O mesmíssimo espanto. A mesma revolta. É então, que do fundo silencioso dos anos a voz da professora Marina repete para meus olhos atentos (mais por curiosidade que por ofício de estudante): “enquanto numa sociedade houver uma pessoa que seja que não tenha os seus direitos respeitados, nessa mesma sociedade não haverá nem democracia, nem exercício de direitos, para absolutamente ninguém”.
Man Ray(1890/1976): Fotógrafo, Pintor, Escultor, Cineasta
Prometi a um amigo, apaixonado pela fotografia, que lhe falaria de Man Ray, um vanguardista das belas artes em geral e, da fotografia artística em particular. "Cravei" a descoberta apaixonante de Man Ray nessas veredas andarilhas dos “rodapés”, a pretexto de fuga dessa apatia cultural que força muitos caboverdianos a viverem e morrerem como se o mundo nada mais tivesse produzido para além de carros e betão.
Preto e Branco, 1926 Man Ray
6 3/4 x 8 7/8" (17.1 x 22.5 cm)
Museu de Arte Moderna, Nova Iorque
Man Ray nasceu na Filadélfia em 1890 e morreu em Paris em 1976. Emmanuel Radnitsky abandonou a escola convencional e as directrizes da família, na adolescência, para se dedicar à pintura e a escultura. Marcou essa ruptura com a adopção de um novo nome: Man Ray.
Tapeçaia Man Ray
Vanguardista, inquieto, inconformado e de espírito livre Man Ray encontrou no francês Marcel Duchamp, precursor do “Dadaismo”, um parceiro de trabalho e um grande amigo. Com este fundou o grupo Dadá de Nova Iorque. Não tendo sua obra sido aceita nesta cidade ruma para Paris em 1921. Ali junta-se também ao movimento surrealista. Porém, o “alinhamento” de Man Ray é mais uma busca instintiva de oportunidade de inovação, de ruptura e de criação do que propriamente um frenesi intelectual pelos “ismos” da arte.
Em Paris conviveu e trabalhou com artistas como Pablo Picasso, Salvador Dali, Max Ernst, James Joyce (escritor), Andre Breton (filósofo), Gabrielle Buffet-Picabia (que conheceu em Nova Iorque junto com Duchamp) e tantos outros em quem encontrou o mesmo espírito libertário, identificando-se e potenciando a grande obra que nos haveria de legar.
A prece, 1930
Man Ray 9 7/16 x 7 1/8 Museu J. PaulGetty, Los Angeles
Artista multifacetado, Man Ray dedicou-se a pintura, escultura, fotografia e cinema. Porém, é a fotografia definitivamente a sua grande paixão, o meio que melhor lhe serviu para expressar-se. Escancarou as portas para a aceitação da fotografia como uma forma de expressão artística, explorou métodos e técnicas e inaugurou a fotografia contemporânea. Para além da fotografia como meio de expressão eminentemente artística fez trabalhos comerciais para o sector da moda e fotografou artistas famosos e personalidades com que se privou. Em 1940 regressou aos Estados Unidos para fugir da guerra. Viveu 10 anos em Hollywood onde deu aulas de pintura e fotografia. Voltou a Paris Em 1951 e ali permaneceu até a morte.
Interior, 1932 11 3/4 x 8 13/16 Museu J. Paul Getty, Los Angeles
A obra desse desbravador irreverente é incontornável para a arte moderna e para a nossa cultura visual. Aliás, toda a produção fotográfica moderna está contaminada pelo olhar desse homem.
Abro o google e deparo com o destaque de uma pintura da artista mexicana Frida Kahlo anunciando seu aniversário...uma homenagem (póstuma) agradável para a promoção da arte neste nosso mundo moderno em que as pessoas são bomabardeadas com futilidades.
Frida que morreu aos 47 anos de idade foi uma mulher forte e inteligente. Consegiu conviver e superar de certo modo suas dores e infortúnios com bom humor, utilizando a arte como meio de elaboração e de expressão das mesmas.
Legou à humanidade belíssimas e fortes imagens que acomapharão muitas gerações...
Auto-retrato com cabelo solto (1947)
Frida Kahlo
segunda-feira, 5 de julho de 2010
Trilhas da independência...
A independência…
A nossa independência em relação a Portugal e aos portugueses é desnecessária e impossível. Necessária, distante e difícil é a independência no sentido da dignidade humana, com base na cultura, aquela de que falava Cabral quando o silenciaram. Dizia que a primeira é impossível: primeiro, porque sangue portuguêscorre nas nossas artérias. Segundo, porque a nossa história é parte incontornável da história de Portugal. Terceiro, porque se no dia 5 de Julho Portugal abrisse suas fronteiras para os Caboverdianos, no dia 6 centenas de nós estariam radicados no “buraca”. Quarto, porque as grandes negociatas dos nossos “gestores públicos” são feitos com os “irmãos portugueses”. Quinto, porque as verdianinhas em “missão de serviço” fazem as suas compras no “Colombo”. Sexto, porque quem paga as propinas de muitas morenas pobres que frequentam os liceus que pomposamente denominamos de “universidades” não é o estado mas sim os portugueses que estando em Cabo Verde a trabalho precisam de uma segunda esposa…sétimo, blá…blá…blá…e, por último devemos muito dinheiro aos portugueses. Por isso, os nossos filhos e netos que hoje se dedicam aos vídeo games amanhã terão que se esforçar muito para pagar nossos créditos ou, na melhor das hipótese, devolver o país aos que, com todo o mérito, o descobriram …
As trilhas da independência…
O retrato com odor a fezes…
(Ilustração: fotocomposição de DimitryVorsin)
35 anos após a indecência de Cabo Verde o pano de fundo do retrato do pais é uma capital caótica, sem cores e sem estética, com um saneamento deplorável, mal planificada e esburacada, com graves problemas de energia eléctrica e de água, sem acesso ao consumo de bens culturais, desumanizada, cheirando a merda para tudo quanto é canto, com uma demarcação clara entre pobres (a maioria) e “ricos” e com o citadinos a acotovelam-se uns aos outros para chegar a lugar nenhum. Tudo isso enquanto esperamos pacientemente por mais uma epidemia de dengue!
O “magestoso” palácio chinês do governo acarinha na sua frente um belo criador de mosquitos, um jardim feio, mal cuidado e com lixo ao relento. Panorama contemplado diariamente pelos nossos ministros, presumo, com muito orgulho.
A “comunicação social”(?) tem a missão nobre de, através dos seus “flaches”(lapsos) diários misturados com um português muito mal falado, uma enorme desplicência em relação a pesquisa e a concepção ética e tecnicamente adequadas da informação, de manter os “cidadãos” convencidos que uma “caneta bic” é o último modelo de um “avião supersónico” criado no tal palácio chinês por seres que são de natureza divina. E que, como tal, devem ser reverenciados. De preferência com o rosto enfiado na lama e o rabo direccionado para a bruma seca que nos paira.
Para ajudar a comunicação social a enfiar-nos o sapo goela abaixo o galã inventou a treta das “queridas verdianinhas” a laia de igualdade de género. Isto num país marcadamente machista e com índice vergonhoso e impune de violência contra a mulher, o qual conta com a participação activa de líderes políticos que até se dão ao luxo de agredir suas companheiras na praça pública . Há os que fazem menos feio e vão trocando cargos públicos por favores sexuais, em nome da igualdade de géneros.
(Ilustração: fotografia de HannsTimm)
O gostosão chamou a Jájá para nos educar diariamente com o seu um discurso marketeiro, racionalizado e enfático (característico da psicologia masculina). Como a alienação é a palavra de ordem mal desconfiam que o respeito pela dimensão feminina da vida humana (Jung diria a dimensão anima) tem outras características e conduz necessariamente à outras práticas como sejam: o respeito e a valorização da natureza, da ecologia e da vida, a promoção da cultura e das artes, a sensibilidade, a valorização da existência humana no seu sentido lato, o cuidar afectivo e adequado do outro, o respeito pelas diferenças…
As trilhas da independência…
Amílcar Cabral nasceu na Guiné, cresceu em Cabo Verde…blá…blá…blá…blá… (essa era a missa que nos obrigavam a rezar na escola primária…)
Que Cabral tenha morrido é facto. De morte matada ou de morte morrida tu também caminhas para lá. Eolha lá que existencialmente falando muitos caboverdianos já morreram mas não sabem. Porem, para sermos politicamente correctos vamos dizer que vivem sete palmos acima da terra. Que os sucessivos governos e líderes deste país tenham ignorado as ideias de Amílcar Cabral e feito com que dele não restasse nada mais do que a concepção vaga de um ídolo que não chega aos calcanhares do Beto Dias é…muiiiiiito coerente. Afinal, as concepções éticas e políticas de Cabral estão em franca contradição com as práticas dos grandes líderes deste país nos nossos 35 anos de independência (?). Com projectos políticos e de sociedade que rechaçam o homem para o limbo e colocam no centro a tal “lógica do capital”. Lógica essa duplamente ridícula para um país que nada produz e de um estado que vive da espoliação das empresas e dos cidadãos em troca de agressão gratuita.
“Os dirigentes de hoje governam o arquipélago como empresários; e dos ideais de Amílcar Cabral restou apenas lembrança…” eu diria que governam o país como comerciantes retalhistas tal qual meu falecido tio “Junzin d’Bia”!
“As primeiras eleições livres, exigidas pelos credores do país em 1991, foram fatais para o PAICV, que teve que dar lugar ao MPD. Este converteu o país à economia de mercado e lançou um programa de privatizações, do qual se aproveitaram principalmente os investidores portugueses (bancos, centrais eléctricas, postos de gasolina...). Portugal recuperava, dessa maneira, o que perdera com a descolonização”.
“As restrições à imigração adoptadas pelos países ocidentais põem em risco a sobrevivência de uma população para a qual a emigração sempre foi o recurso para escapar à pobreza e à perseguição”.
“A impotência dos dirigentes na defesa dos interesses locais é flagrante no que se refere à pesca: inexistência de cursos de formação para marinheiros e ausência de modernização de estruturas (fábricas de conserva, entrepostos frigoríficos, pesqueiros de alto mar...). Este sector, entretanto, é responsável pela sobrevivência de 15% da população economicamente activa…”
“Suprema esquizofrenia: nas proximidades da biblioteca nacional, numa grande praça ainda em obras, ergue-se uma imensa estátua de bronze, de vinte toneladas, de Amílcar Cabral... com os olhos puxados. O presente, oferecido pela China, representa-o vestindo um capote de inverno, como um comandante atravessando as estepes, ou a tundra!”
“As autoridades organizam simpósios internacionais, bastante dispendiosos e de uma eficiência duvidosa, sobre direitos humanos e a pobreza. Cabo Verde recebe regularmente elogios e a aprovação das instituições financeiras internacionais”. Diria eu, de novo, “suprema esquizofrenia” utilizar os elogios hipócritas do Banco Mundial e do FMI para demonstrar a performance do país sabendo quem são essas instituições e que interesses defendem…ou é burro que proclama (principalmente quando vem de supostos partidos de esquerda) ou é burro que acredita!
“Os livros de Amílcar Cabral saíram das estantes das livrarias, a lentidão e o rancor são perceptíveis…”
“Grupos privilegiados, partilhando os mesmos interesses económicos, permeiam os partidos políticos. Uma vez no poder, suas orientações políticas são as mesmas".
“…os números oficiais dissimulam as desigualdades sociais gritantes. Os esforços sociais dos primeiros tempos da independência foram varridos pela guinada liberal da década de 90 e pela corrupção”
“Cabo Verde tornou-se uma espécie de teatro de um desenvolvimento fictício. O Produto Nacional Bruto (PNB) e a ajuda internacional que o país recebe passam, em primeiro lugar, entre as mãos de uma elite arrogante e auto confiante, enquanto o povo é iludido pelas quimeras de projectos mal elaborados que jamais se irão concretizar”
Os mortos nunca se revoltam excepto no clip do Michael Jackson. Infelizmente, na Cabomorabeza os vivos(?) nunca se “manifestam” quanto mais para se revoltarem...
As trilhas da independência…
A alienação, os alienados e os “alienadores” (Ilustração: obra Foto de MiroslavTichy)
A nossa ideologia em termos de concepção do poder político parece se emanar directamente do pensamento mecânico, positivista e ultrapassado de Augusto Comte, isto é, “proclama” de modo absolutamente alienado que “numa sociedade ordenada e progressista o poder político é um direito dos sábios e sua aplicação uma tarefa dos técnicos”. Sábio para nós é qualquer “portador de um canudo de licenciatura” (ainda que vazio) que se auto-intitula intelectual e se dispõe a granjear status e/ou poder económico sem muito esforço, amparado pela lealdade de uma elite alienada e egoísta. Mal sabemos que o poder nas mãos de um indivíduo imaturo, emocionalmente desequilibrado e “ignorante” é uma arma perigosa ou, na melhor das hipóteses, um desperdício de recursos. Há poucos dias li um post do João Brancohttp://cafemargoso.blogspot.com/2010/06/um-cafe-cheio-com-lula.html sobre o Lula da Silva, para mim o maior líder político deste século, que nos mostra claramente, na prática, que a política nada tem a ver com o culto do pseudo intelectualismo que apregoamos por aqui.
É asqueroso colocar sobre um pedestal as chamadas “grandes individualidades” em nome de um falso intelectualismo ou de supostos favores à pátria e reduzir o homem comum a condição de réptil, em nome da sua suposta ignorância e inaptidão.
É vital e urgente protagonizarmos, nos níveis individual e colectivo, uma reflexão profunda, verdadeira e ética que nos permita finalmente dividir o respeito humano e o mérito numa perspectiva radicalmente oposta. Retirar nossos joelhos doridos desse chão nojento em nos encontramos prostrados diante de falsas deidades e erradicar essa maldita ideologia que é utilizada como instrumento de alienação e de dominação. Essa é uma das trilhas da independência…aquela que ainda não começou.