Feliz descoberta para mim a pintura/poesia de Bia ou, se quiserem, de Rosário Gomes como consta na net (http://rodesignarts.blogspot.com). Há muito que ouço falar da obra dela pela boca de amigos e familiares. Hoje, superando a minha terrível impaciência com o computador encontrei-a nessas trilhas do mundo...felicidades a nossa Rosário e a toda a nova geração de artistas, no caso específico, de Santo Antão, que necessariamente são homens e mulheres do mundo, como o Bento Oliveira, o Teodoro Campos e outros e, de Cabo Verde em geral, e das artes em geral para que possamos desbravar trilhas humanistas, um pouco mais humildes do que as que temos engendrado, para encetar a necessária fuga a essa engrenagem metálica que quer nos coisificar e nos esmagar como se nos faltasse dom para sermos homens e mulheres.
...actualmente quando vou à Santo Antão passeio pelas montanhas e veredas em jeito de refúgio e de regeneração. Por vezes, resgato memórias e impressões, um pouco nostálgicas, inscritas em mim e na familiaridade das paisagens. Memórias de uma infância e juventude felizes e vividas em liberdade e comunhão com a natureza...
...o latido distante de um cão, o cumprimento ao longe de duas mulheres, o berro breve de um cabrito, o som opaco de uma enxada em luta com a terra ressequida, o rugido monótono de um motor, a água caindo algures, o voo breve de um insecto, a imprevisível brisa nas folhas do canavial podem ser o pano de fundo de uma introspecção quase imperceptível, uma espécie de vivência onírica...de repente o olhar encontra-se com cores e contrastes. Demora-se...retiro do bolso do short a maquineta do "tipo apontar e disparar" que agora substitui a velha Pentax Asahi e registo um momento de intimidade, de quase nudez... que agora começo a partilhar!
Carlos Drummond de Andrdade, um dos poetas que me encantam pela simplicidade da linguagem e pela escrita intuitiva, sem "racionalismos" e sem disfarces de dicionário, "assim como a vida é!" como diria Raduan Nassar, um dos maiores da literatura lusófona, com "um olho nos livros e um olhão na vida..."
...José na voz do próprio Drummond!
José pode ser meu pai, um homem que foi imitar a alvura dos gelos da Escandinávia e trouxe-a nos seus cabelos de há muito brancos , um homem que guarda na sua retina a memória do respeito com que os noruegueses o trataram em quase três décadas de emigração. Respeito que em grande medida só pode granjear em recordações, pois, por aqui é geralmennte "improcedente". Mas também pode ser João, como o fino artista/pedreiro Junzin d'Polina a quem me afeiçoei profundamente só de ouvir suas estórias na voz do seu e do nosso Paulino Dias, pode ser também João do Carmo do alto da sua serenidade e do seu espírito jovem e empreendedor. Pode ser Nhe Crulin, Nhe Fidjin, Manuel, António, teu pai, minha mãe, minha tia, todos octogenários, enfim, um sem número de heróis anónimos que verdadeiramente desbravaram com os seus dedos, em carne viva, esta terra inóspita e nos legaram trilhas heróicamente abertas, na mente e nas ilhas ressequidas. Trilhas essas que ainda não tivemos a humildade e a sereneidade necessárias para as entender e seguir!
Veredas da Saúde Mental, que estranhamente relutamos em trilhar, enquanto reduzimos a EXISTÊNCIA HUMANA a frivolidade de sinapses e neurotransmissores! Eis um dos muitos exemplos que o Brasil e outros paises da América Latina podem nos proporcionar.
Esta experiência da Colónia Juliano Moreira se soma à outras como aquelas lideradas pela Nise da Silveira (www.museuimagensdoinconsciente.org.br) através da qual revolucionou preceitos e paradigmas sobre a loucura/sanidade mental, e abriu brechas para que artistas como Emigdyo de Barros, Raphael Domingues, Fernando Diniz e tantos outros desenvolvessem e revelassem suas potecialidades ao revés da incómoda veste de loucos.
Ao contrário da ladainha "saúde é um estado de bem-estar físico, mental e social..." preconizada pela OMS e repetida sistematica e inadvertidamente por todos nós, a saúde é um processo dinâmico e dialéctico não se reduzindo a essa pretensa condição de "estado", muito menos aos extremos saúde e doença. E, tem no seu âmago componentes sociais muito mais preponderantes do que aqueles que admitmos. Quando se trata da saúde mental a componente política e família, no sentido do jogo de poderes é muito forte. As componentes fisiológica, constitucional, psicomotor, etc. são relevantes mas, reduzir a saude à um biologismo mecânico é uma grande trapaça. Infelizmente protagonizada e defendida por muitos "técnicos" da saúde, incluindo os nossos.
Um cintilante cesto de fibras entrelaçadas, inacabado, sem fundo. Imanescente no fundo do nada. Era o tempo orgástico: um fim infinito antes do próprio fim. No apelo pacífico o leito de névoa. Por vago instante, no avesso da retina a inequívoca imagem de róseos seios e curvilíneos triângulos, em voláteis garfos se desfez. Nasceu o poeta. Depois…foram somente madrugadas. E luas. Nada mais.
Estou e penso que muitos estarão também a espera, do dia em que instituições como a TACV, a Electra, os Serviços de Registos e Notariado, muitos serviços públicos e privados e tantos outros nos dirão frontalmente, em palavras, aquilo que nos dizem diariamente em atitudes.
Pode parecer simples ironia mas é muito mais do que isso. Eu ficaria muito satisfeito. Daria uma bela risada e, em seguida tomaria o rumo de um desses lugares agradáveis, quase idílicos, que me servem de “refúgio para renascimento”- como Rui Vaz, Ponta do Sol, Ribeira da Torre, Monte Verde, Fajã d’Água, Chã das Caldeiras…- no dia em que essas instituições me disserem literalmente, em explícitas palavras:
- “sabe uma coisa, olavo (assim mesmo, com letra minúscula), vá à merda, vá para o diabo que te carregue porque estamos nas tintas para as tuas pretensões de direitos ou de seja lá o que for”.
Convenhamos. Todos os anos é a mesmíssima coisa. Centenas de pessoas, incluído os benditos emigrantes se acotovelam e se humilham pedinchando um lugar para viajar de avião em Cabo Verde. Imagino que num “lógica de procura e oferta” muitos até pagariam um valor inflacionado para essas benditas viagens. No entanto, a administração dos TACV que no ano 1990 já sabia que em 2010 não conseguiria dar vazão ao transporte de passageiros no verão e no fim de ano, nada fez e nada fará para “gerir” essa e outras situações.
Queria viajar não pude. Muitos queriam, querem e não poderão. Outros insistem, activam as “conections”, encetam uma ida e vinda dos aeroportos até conseguirem, que seja um dos lugares “free” de um “tacevista” que acordou com aquela maldita ressaca e preferiu continuar no maldito conforto do leito.
Porem, usando ou não os serviços a grande verdade é que a factura será sempre e necessariamente paga. Porque as empresas públicas estão nas tintas para a treta da gestão, porque o cofre do estado estará sempre de pernas abertas, qual incauta “pexinguinha” para as acolher. O pequeno detalhe é que o “cofre do estado” é exactamente “eu e tu” que essas mesmas “empresas” mandam indevidamente (porque não o fazem de modo explicito) para o inferno.
A Electra e muitas outras me espoliam, me extorquem, me insultam com os piores atitudes que se pode dirigir a um inconveniente insecto, violam frontalmente leis e direitos, me agridem e depois me cobram a factura a moda do velho “gangster” americano. Me cercam, me torcem os ossos e os músculos, me apontam a arma à têmpora e me enfiam as mãos no bolso ou sabe Deus lá onde. O estado, a mãe pátria que mais parece a “mãe tigre” de pé como alcoviteira apenas observa, escarnece e aprende para o dia em que, também, directa ou indirectamente me extorquirá. Depois vai ao “cofre” e enfia a mão a moda de um urologista sádico, ignorando a minha dor e me obriga a pagar pela enésima vez a mesmíssima factura.
…e se por um acaso, por um mero defeito da minha constituição físiológica, o amargo fígado me doer existirá sempre a disposição para "livre escolha" (palavras de um ministro) um cálice de “metanol” disfarçado de “grogue de Santo Antão” para me consolar, até que, finalmente, chegue aquela bendita frase redentora que tão ansiosamente aguardo!