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Prezado Senhor Deus,
Dirijo esta missiva à vossa senhoria com toda humildade e respeito requeridos à um subalterno. O motivo a ela subjacente é um intermédio entre desabafo e reclamação. Vossa senhoria há de me perdoar de antemão tamanha ousadia. Porém, a abolição da figura paterna nestas ilhotas transformou em bagaço, em fantoche e, em outros adjectivos que não ouso pronunciar temendo a vossa justa reprimenda, aquilo que seria a autoridade. Vós que sois autoridade suprema entendeis o caos gerado por uma tal ausência, o qual vai da anarquia à incivilidade. Então, não me resta outra alternativa se não dirigir-me a si.
Porem, não pretendo vos maçar com rodeios de linguagem e verborreia inútil dado o avolumado e a urgência de actividades que ocupam vosso eterno tempo nas Guinés, no Afeganistão, no Iraque, na cidade da Praia, enfim...Vou directo ao ponto.
Em primeiro lugar quero agradece-lhe a gentileza de não me ter convidado a festa de comemoração da vossa vitória. Pelo volume do som e pelo entusiasmo presumo que tenha sido mais um pleito bem sucedido com aquele de quem não devemos pronunciar o nome, aquele que aguarda pachorrentamente nossos ministros e presidentes lá nas profundezas. Agradeço sim porque, o estilo musical a mistura com aquela desafinação toda não são exactamente o que me agradaria de modo que seria uma tremenda “seca” se eu lá fosse.
Cheguei em casa cansado depois um dia de trabalho. Para efeitos de clarificação digo-lhe que trabalho significa também circular pelas ruas esburacadas, feias e fedorentas desta cidade e encarar o cenho mal-humorado dos praienses, incluindo o meu. Dizia que regressei cansado à casa no fim do dia mas, bem-disposto. Assim, me apetecia escancarar as janelas (com rede!) para minimizar o calor sufocante e cozinhar um "rango" com um allegretto de Vivaldi nos ouvidos e uma taça daquele tinto na mão, aquele que vossos intermediários tanto apreciam.
Tal capricho não me foi de todo possível dado o ruído ensurdecedor da vossa comemoração que se prolongou noite dentro. Fazendo um parênteses fiquei surpreendido pela positiva ao saber que sois apreciador do estilo “hip hop”. De qualquer modo peço-lhe encarecidamente que na próxima celebração baixem um pouco o volume do som para que não se propague tal longe e tão intensamente como ontem.
Por outro lado queria pedir-lhe perdão por ter me referido aos seus seguidores com aquelas obscenidades e por desejar que fossem ter com o maior inimigo de vossa senhoria lá nas profundezas.
Para não me esquivar de dar notícias da Praia digo-lhe que fui fazer o meu “footing” matinal devidamente lambuzado de um repelente “fedorento” e que, nas águas paradas das valas e “riachos” habituais desta cidade, tão habituais que até parecem patrimónios culturais, temos nos empenhado com o todo o necessário afinco na preservação de espécies da vossa autoria como sejam o “aedes aegypti” e todos o seus primos, bem como de outras espécies rastejantes, voadores, roedores e microscópicos. Preservamos também, imbuídos do mesmo espírito ecológico, a espécie dos "políticos descerebrados". De modo que se por um infortúnio qualquer ou, se por decisão justa e suprema, se fizer perigar a existência de tais seres e, por imposição vossa for imperativo uma arca semelhante ao do brioso Noé, com a morabeza e solidariedade que nos são característicos cederemos de bom grado vários exemplares de tais espécies à vossa senhoria.
Quanto a mim, pessoalmente, estou bem excepto a minha luta com um parasita que recebi de bónus na “água potável” da Electra durante a minha inglória pretensão de escovar os dentes. Trata-se de um prémio justo creditado à um cliente que paga de modo alienado e sempre atrasado, também sem muita reclamação, toda a super facturação que me é imposto carinhosamente.
Meus respeitos.
Assina vosso Servo.
PS: Alegra-me saber que expressões como “sab pá cagá” tipicamente mindelenses já fazem parte do vocabulário badio e, particularmente, do vocabulário de vossa senhoria e dos vossos zelosos seguidores.
1 comentário:
Man,
Já dá na tchon te érri!!!!! Essa foi magistral, meu caro! Eh eh eh eh...
Uma braço,
Paulino
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