A Cidade da Praia parece definitivamente ter superado o desalento da ausência de eventos culturais. Em 2010 produções de diferentes áreas foram se sucedendo...que nos anos que vêm pela frente essa dinâmica se intensifica, se diverisfica e se enriquece, independentemente de haver ou não políticas públicas para o sector. Que sejam os produtores e os fuidores das artes e da cultura em geral os motores de um "novo momento" na história deste país. Se os "políticos" preferem instalar-se confortavelmente na ignorância (entenda-se burrice) a respeito do verdadeiro papel da cultura na vida e na evolução desta sociedade "que o diabo os carregue"!
...ontem fomos conferir o lançamento do primeiro livro do Abrão Vicente, tendo como pano de fundo o sorriso bricalhão do Princezito e a leitura teatralizada de trechos do "Trampolim" pela voz de homens e mulheres. Não faltou uma taça de um bom tinto, é claro. O pouco que ouvi e dos extractos que li nasceu uma grande empatia, a priori, com essa obra. Há muito que a produção literária cabo-verdiana reclama por novos rumos, por criações na verdadeira acepção da palavra. A mim me tem aborrecido o status quo, a monotonia que se vai verificando na nossa prosa e poesia. Precisamos de um Raduan Nassar e de um Carlos Drummond de Andrade para nós. Criadores que rompam com um ciclo que foi bom e enriquecedor mas, que já cumpriu o seu papel social. Arte é inovação, é a criação de novas formas, é ruptura.
Apesar da humildade com que Abrão Vicente encara o seu "Trampolim" faço votos que seja ele o nosso Raduan Nassar e, se não for, que seja o catalizador de uma "nova era" na nossa produção literária. Que o "Trampolim" cumpra seu papel de catapultar o autor para outras altitudes (de criatividade) e que sirva de estímulo para estilhaçar a timidez de criadores em potencial, que estão por aí ocultos na multidão. Para o Abrão que esse primeiro seja o primeiro de muitos...
Há poucos dias atrás num apelo 'marqueteiro' e puramente comercial a cidade da Praia nos impunha um tal Akon, que por arrastão da imperiosa necessidade de modelos/ídolos, fenómeno próprio da adolescência, levava na onda barbudos e 'cotas' para ouvir em 'play back' um artista que desconheço de todo mas que merece o meu respeito. Como diria o Gilberto Gil todo o estilo musical cumpre uma 'função social' específica e, só por isso, a principio já é respeitável.
Eu que já havia me rendido aos encantos do 'Afrobeat' de Fela Kuti estando um bocado a leste das 'coisas do mundo', um pouco como resultado da tal suposta 'dolência crioula' mas, maioritariamente pela ausência de informação de qualidade que por aqui nos é imposto, nem sonhava que poderia ter o previlêgio de ouvir e ver aquele que foi seu produtor musical durante uma década.
Ontem a noite o CCF nos brindava um 'show' memorável no sentido mais lato da expressão. O Tony Allen, co-fundador do ritmo 'Afrobeat', um homem baixote de 70 anos de idade, parco nas palavras, tanto no dialogo com o público como nas letras da sua música, atrás da sua beteria e acompanhado por cinco extraordinários músicos hipnotizou uma plateia, maioritariamente europeia. O cabo-verdianos eram meia dúzia de apaixonados e curiosos, público esse que espero que cresça em jeito de conta-mão e a revés da alienação que se faz praxis. Seja como for o que se viu e ouviu foi ARTE no verdadeiro sentido da palavra, muito dele improvisado. Arte de um homem que participou na invenção de um estilo musical e que já fez cerca de 40 discos.
Em Outubro o mesmo CCF já havia oferecido à esta cidade um outro espectáculo de enorme qualidade, a ópera 'Mozart Point Final'. Salvaguardando o respeito e o carinho pelos bons espectáclulos de 2010, entre eles um bom punhado de artistas nacionais, não hesitaria em classificar os shows do Tony Allen e o 'Mozart Point Final' como os dois melhores do ano. Modesta e leiga opinião. Essa música não sai dos meus ouvidos e dá um imenso prazer...ainda a oiço!
Não era a primeira vez que se sentia Rosa. Tinha um ‘s’ minúsculo pachorrentamente sentado no bico do seio direito, aquele que melhor se dava aos lábios, mais por não se sabe bem o quê do que por destreza.
‘S’ é curvatura que se esquiva a linha. Linha que do falo nunca foi essência. Embora, a verdade não seja exactamente a tal cadela, é verdade que rosa e sexo são formas que contém em si muita curvatura. Estaria ali a essência do inominável? Pois, enfadonha seria ela, a vida, que melhor se consagra nos suspiros (gozo é desejo renovado!) se uma inflexível linha fosse. Nem eros nem thanatos nos inspiraria um tal traço. É, no entanto, no entremeio dessa ausência que se descobriu ‘s’ e, como rosa – que não é nome com que se possa baptizar uma menina - no invisível templo desdobra-se em macias sinuosidades.
…foi então que, insinuante, a Lua, que é Puta por inequívoca vocação e devassa praxis (cabível em qualquer moral) se despontou como curvante e derradeira metáfora às sobras do ‘s’, do qual só restam vagas reminiscências (memórias odoríferas da Rosa, a tal menina sem nome) …
Um “novo alcoolismo” ou duas décadas de intoxicação alcoólica com a cumplicidade do estado de Cabo Verde
Com a abertura política na década de 90, numa mistura entre o favorecimento de agricultores revoltados com as políticas do regime ditatorial, com o intuito de silenciar a intenção de não cumprir as promessas de justiça feitas em campanha e, uma diluição crescente da autoridade que se deslocou do autoritarismo para a ausência, liberalizou-se a produção de aguardente a partir do açúcar refinado na ilha de Santo Antão. Somada a produção da Ilha de Santiago, que em regra era de má qualidade, toneladas de aguardente com alto índice de cobre, de álcool metílico e de outras substâncias nocivas a saúde, totalmente fora dos parâmetros definidos pela OMS relativamente aos produtos para consumo humano, foram introduzidas no mercado cabo-verdiano.
A partir de então milhares de pessoas, na sua grande maioria jovens do sexo masculino passaram a morrer de cirrose hepática com uma enorme frequência. Nota-se que a cirrose hepática é uma anomalia orgânica que resulta de longos anos de consumo persistente de bebidas alcoólicas. Normalmente decorre do alcoolismo crónico. Estranhamente, mas nem tanto, a média de idade cientificamente prevista para o surgimento dessa doença a nível mundial, em Cabo Verde praticamente foi reduzia para a metade. Isso indicia que não tem sido necessário uma “carreira” de alcoólico para o surgimento do mesmo. Esse evento aponta para uma elevada toxicidade da aguardente produzido em Cabo Verde, a partir do açúcar refinado. Para além da cirrose várias doenças dos sistemas digestivo, cardiovascular, entre outros, para além dos distúrbios mentais, dos problemas sociais e económicos são diariamente registados.
A título de exemplo, segundo fontes credíveis, apesar de algumas falhas nos registos estatísticos, no banco de urgências do Hospital Regional da Ribeira Grande de Santo Antão, a patologia prevalecente na procura do serviço é o alcoolismo, que muitas vezes ultrapassa os 90%/dia.
O estranho é que nas discussões sobre o assunto “Grogue de Santo Antão” prevalece o discurso “económico” e o discurso de “valorização” do mesmo, abstraindo-se do problema da “saúde pública” e do problema humano e social.
Milhares de famílias perderam o seu principal provedor. Muitos filhos perderam o pai e ficaram marcados pelo fenómeno do alcoolismo, que deixa marcas traumáticas profundas no psiquismo humano. Marcas que terão que carregar pelo resto da vida, com todas as suas consequências, inclusive a maior probablilidade de se tornarem também alcoólicos. Cabo Verde vai perdendo, principalmente nas zonas rurais, muita mão-de-obra. Milhares de contos são gastos no tratamento reiterado de doenças agudas e crónicas derivadas da adicção etílica. Gastos esses que nem sequer podem ser compensados pelos impostos arrecadados a partir dessa “indústria”.
O silêncio das instituições públicas nos níveis local e central em relação a essa “chacina” é uma das piores aberrações que já presenciei na minha vida. Para terem uma ideia da gravidade da toxicidade desse produto seria de longe preferível as pessoas comprarem álcool etílico a 90º nas farmácias, dilui-lo em água potável e beber. Os danos a saúde seriam de longe menores.
A produção da aguardente nos moldes anteriores a década de noventa era mais vantajosa do ponto de vista económico para os verdadeiros agricultores. O que faltava na época era valorização e a promoção do mesmo como um produto artesanal de luxo. Nos moldes actuais é muito vantajosa para os não agricultores. Esses são uma espécie de “traficantes legais de drogas”, com a anuência do próprio estado.
Pergunta-se que raio de estado é esses que permite o assassinato dos seus cidadãos? Se me perguntassem a mim: planto cannabis sativa (padjinha) ou faço aguardente de açúcar? Responderia sem hesitação: liberalizem a padjinha. Apesar de conhecer profundamente os males derivados dessa droga cujo consumo persistente levaria a distúrbios mentais, esses têm sempre possibilidades de tratamento. Pelo que saiba ainda não se descobriu a fórmula para ressuscitar os mortos.
Confrontados com o silêncio do estado, que deveria ser o primeiro defensor dos cidadãos e dos seus direitos mas, que pelo contrário se transforma em cúmplice de práticas destrutivas, ele (o estado) torna-se o único e verdadeiro responsável por todas essas perdas humanas e pelas suas consequências.
Antes de se equacionar qualquer solução para o desenvolvimento económico de Santo Antão, com enfoque para a questão da produção e valorização do “grogue”, é imperativo discutir e solucionar essa violência perpetrada por meia dúzia de oportunistas, engajados no enriquecimento fácil. É imperativo que o estado assuma de forma responsável seu papel como regulador e fiscalizador dos produtos destinados ao consumo humano. Prioritariamente promovendo a proibição e a eliminação da aguardente fabricada a partir do açúcar refinado. Pela toxicidade do mesmo e pelo problema gravíssimo de saúde pública daí decorrente, um estado responsável confiscaria e destruiria as toneladas desse produto armazenados em Santo Antão, e não só.
Para concluir diria que um dos factores preponderantes na origem de qualquer toxicomania é exactamente a oferta. Esta, infelizmente, é coisa que não falta por aqui.
Dez de Outubro é a data escolhida pelas Nações Unidas, através da WFMH (Federação Mundial da Saúde Mental), para chamar a atenção das pessoas ao redor do mundo relativamente as complexas questões da promoção da saúde mental.
O dia se aproxima e irei escrever uma série de “artigos" sobre o tema "Saúde Mental".
Exclusão social dos portadores de distúrbios mentais– um projecto alienado de estigmatização
Para mim Saúde Mental significa a pessoa sentir-se predominantemente com capacidade emocional e física para viver, sem o dispêndio de níveis de energia interna para além do necessário. Viver significa realizar suas tarefas e relacionar consigo e com os outros de forma criativa e motivada. Significa solucionar suas dificuldades sem manter um elevado nível de desorganização emocional, psíquica e física por um longo período de tempo. Para a saúde mental/distúrbio mental concorrem todos os “sectores” da vida da pessoa e da “comunidade” (nos níveis macro ou micro-social) onde se “insere”.
A apropriação das questões da loucura e da doença mental pela medicina e pela psicologia, posteriormente pelas outras ciências que tratam dessas questões, se revelou uma faca de dois gumes. Se por um lado lançou-se luz sobre alguns fenómenos psíquicos, fisiológicos, antropológicos e sociais que concorrem para a saúde/doença mental, por outro lado constitui-se uma avalanche de pré-conceitos (inclusive científicos) e de mecanismos emocionais e sociais que dão corpo a resposta de uma solicitação alienada das sociedades: a etiquetagem, a estigmatização e a marginalização. Simplificando, a sociedade pede aos profissionais da saúde mental, imbuídos de um poder que lhes é facultado por essa mesma sociedade, que “separem o trigo do joio” indicando de forma clara quem é louco e quem não é.
O problema daí decorrente é que a separação estanque entre loucos e não loucos é impossível. A loucura em geral e os limites daquilo que denominamos de doença mental são definições limitadas no tempo e no espaço. De certo modo não têm existência ontológica. Não têm força de “ser”. A loucura, o desvario, a perda de controlo, a contestação aparentemente absurda fazem parte da existência humana.
A etiquetagem (o diagnóstico) tranquiliza as pessoas e os médicos. Assim, quando “se olha a espelho” pode-se olhar para um louco, porque todos nós de certo modo o somos, mas veremos um indivíduo “equilibrado” na certeza tranquila de que os loucos estão na “Trindade”, na “psiquiatria”, na “Ribeira de Vinha”.
Não nego a existência das doenças mentais. Pelo contrário considero-as as maiores fontes de sofrimento e de angústia. O que temos que negar veementemente são os paradigmas decorrentes não de conhecimentos científicos sólidos mas sim de mecanismos psíquicos de defesa (loucura) que transbordam para o social, se potencializam e retornam para as equipas de saúde mental que rotulam e excluem pessoas, violando seus direitos e empurrando-os de forma inadvertida, mas covarde, para uma carreira de louco, para a mais trágica das mortes – a morte existencial.
Todo o profissional de saúde mental tem de fazer uma auto-análise permanente para confrontar-se com seu afectos e suas ideias e entender as motivações das mesmas. Todo o profissional de saúde mental tem que potenciar diariamente a sua própria saúde mental e encurtar o campo da sua loucura para que possa acolher seu cliente com a “assepsia mental” necessária para o ajudar. Mais do que uma questão técnica é uma questão ética. Para além disso ele tem que transmitir à sociedade informações claras e correctas sobre a saúde/doença mental. A melhor delas é devolver a essa sociedade um cliente que viva e conviva como os demais membros, participando activamente no circuito das trocas sociais, isento do estigma da loucura e da improdutividade.
Com o avanço da ciência no domínio da psicologia profunda, dos psicotrópicos (drogas para tratamento de doenças mentais), do serviço social, da terapia ocupacional, da análise institucional, etc. o tratamento dos distúrbios mentais é, em geral, simples e possível. A grande maioria dos chamados “doentes mentais” podem viver como todos nós. Podem estudar, trabalhar, criar, participar, amar, constituir família…se não o fazem é porque de forma activa, porém alienada, os impedimos de o fazer. Os impedimos de modo individual e os impedimos como sociedade. Os impedimos de modo esporádico e os impedimos de forma organizada, institucionalizada, através do estado e das suas instituições.
Os doentes crónicos e maltrapilhos pelas ruas dos centros urbanos, os doentes trancados em casa num sofrimento inimaginável, as doentes com recaídas frequentes nos nossos serviços de saúde mental, os doentes “moradores” nas instituições de saúde…todas essas situações são absolutamente desnecessárias, podiam e deveriam ser evitadas.
As reformas necessárias no sector da saúde mental em Cabo Verde não são essencialmente técnicas, não decorrerão prioritariamente da alocação de recursos humanos e materiais. Não. As reformas necessárias decorrerão da desconstrução dos paradigmas alienados e alienantes. Serão impreterivelmente no domínio da ética, da cidadania e dos direitos humanos.
Um pequeno trecho do filme Le Charme discret de la bourgeoisie que propõe uma crítica muito ácida à burguesia. O realizador é o espanhol Luis Buñuel, de orientação surrealista. Neste filme conta a história de seis burgueses que se reúnem para um jantar rodeado de acontecimentos no mínimo esquisitos.
Vi o filme em meados de 90 e fiquei fascinado. Acredito que vale a pena conhecer a obra de Buñuel. Não só este filme mas toda a obra dele. Para os amantes do "cinearte" é uma descobreta ou redescoberta muito feliz.
• Direção: Luis Buñuel
• Roteiro: Luis Buñuel, Jean-Claude Carrière
• Gênero: Comédia/Drama/Fantasia
• Origem: Espanha/França/Itália
• Duração: 102 minutos
• Tipo: Longa-metragem
…um friozinho na barriga indicia a relevância AFECTIVA de um marco na vida: levo o meu filhote ao seu primeiro dia de aulas. Um primeiro que espero ser de uma bem-sucedida carreira de criatividade, apesar da serialização dos homens promovida pelas escolas. Há cerca de três décadas atrás era eu quem fazia percurso semelhante. Uma das diferenças é que relutantemente eu não queria ir à escola. Meu primo Paulo, da mesma idade que eu, parceiro de muitas batalhas, teve que ir buscar-me em casa durante vários dias seguidos para me convencer. Meu filho vai muito feliz e descontraído.
…no programa matinal da RCV a jornalista que faz a ronda na cidade da Praia reclama de algumas escolas “feias”, com mau aspecto, ao contrário do prometido pelo ministério. O jornalista no estúdio destrói a abordagem da colega alegando que “a campanha de pintura das escolas ainda está em curso e que, certamente, essas escolas irão ser pintadas”. Olho em volta para a movimentação das crianças e adolescentes na rua e, apesar de “UNIFORMIZADAS” e de tudo que conhecemos do nosso sistema de educação tenho esperança que teremos profissionais melhores no futuro. Inclusive para a construção de uma comunicação social verdadeira, que cumpra seu papel…
…tenho as frases do reitor da UNICV e de um analista atravessadas na garganta. Numa reportagem sobre os resultados das “provas de acesso”, particularmente em português e matemática, num canal de televisão, numa apelação inacreditável faziam malabarismos num esforço contorcido de justificação do facto. Um deles apelava para o problema do português não ser a nossa língua de uso corrente como justificação do fracasso. Outro justificava o sucesso da educação antes da “massificação do ensino” com o argumento de que quem tinha acesso à educação era uma pequena “elite”…ri de tristeza porque sou neto de um “matador de porcos” do interior rural de Santo Antão. Eu e os meus sete irmãos estudamos e sabemos ler e escrever. Usamos esse saber como instrumento de comunicação e de trabalho. Meus pais, octogenários, estudaram até a quarta classe e sabem ler, escrever e raciocinar. A maior parte dos meus amigos e colegas de percurso académico são oriundos de famílias pobres ou muito pobres. Muitos dos meus colegas das tais “elites” ficaram para trás mesmo tendo condições materiais e sociais de longe muito mais vantajosas.
…o FRACASSO DO ENSINO em Cabo Verde a partir da década de 90 tem de ser assumido por esta sociedade. O rumo tem que ser mudado a 180 graus. Medidas paliativas não servem. Um sistema que fracassa no ensino da língua e da matemática não é válido. O resultado é zero. A linguagem é o suporte do raciocínio e da comunicação. Ela é o diferenciador da espécie humana. Sem a linguagem nos nivelamos com o resto da fauna. Sem raciocínio não há capacidade de trabalho, de produção, de inovação, de criação…se os políticos nos disserem de forma clara que lhes interessa um povo “burro” não estaremos de acordo mas entenderemos seus motivos, que por sinal são muito óbvios…
…misturar a questão da oficialização da língua caboverdiana com o ensino/aprendizagem de outras línguas é uma apelação desnecessária. Brinco muitas vezes com essa história do “alupec” mas sou a favor da oficialização do “crioulo” e acho que já podia ter sido feito. Não sei ler nem escrever em “crioulo” e não tenho motivação para tal. Fui escolarizado em português e estou satisfeito. A língua caboverdiana é bonita, rica, variada e fácil de aprender. Chineses, Noruegueses, Russos, Portugueses…convivem convosco, aprendem a língua com facilidade e com prazer. Mas, por favor não misturem as coisas. Quando falo minha variante de Santo Antão as únicas pessoas que me entendem são as da minha ilha de origem e as de São Vicente. Como todos os santantonenses quando falo com pessoas de outras ilhas sou eu que faço o esforço de adaptação. Mas isso não me incomoda e nunca senti que a minha língua-mãe me impedisse de aprender outras. Nunca tive dificuldades inultrapassáveis na aprendizagem do português, apesar de não ser uma língua fácil. Tenho deficiências sim mas estas resultam unicamente da minha falta de empenho e de cuidado…
Senhor, nada valho.
Sou a planta humilde dos quintais pequenos e das lavouras pobres.
Meu grão, perdido por acaso,
Nasce e cresce na terra descuidada.
Ponho folhas e haste e se me ajudardes, Senhor, mesmo planta
De acaso, solitária,
Dou espigas e devolvo em muitos grãos
O grão perdido inicial, salvo por milagre, que a terra fecundou.
Sou a planta primária da lavoura.
Não me pertence a hierarquia tradicional do trigo
E de mim não se faz o pão alvo universal.
O Justo não me consagrou Pão de Vida, nem lugar me foi dado nos altares.
Sou apenas o alimento forte e substancial dos que
Trabalham a terra, onde não vinga o trigo nobre.
Sou de origem obscura e de ascendência pobre,
Alimento de rústicos e animais do jugo.
Quando os deuses da Hélade corriam pelos bosques,
Coroados de rosas e de espigas,
Quando os hebreus iam em longas caravanas
Buscar na terra do Egito o trigo dos faraós,
Quando Rute respigava cantando nas searas do Booz
E Jesus abençoava os trigais maduros,
Eu era apenas o bró nativo das tabas ameríndias.
Fui o angu pesado e constante do escravo na exaustão do eito.
Sou a broa grosseira e modesta do pequeno sitiante.
Sou a farinha econômica do proletário.
Sou a polenta do imigrante e a miga dos que começam a vida em terra estranha.
Alimento de porcos e do triste mu de carga.
O que me planta não levanta comércio, nem avantaja dinheiro.
Sou apenas a fartura generosa e despreocupada dos paióis.
Sou o cocho abastecido donde rumina o gado.
Sou o canto festivo dos galos na glória do dia que amanhece.
Sou o cacarejo alegre das poedeiras à volta dos seus ninhos.
Sou a pobreza vegetal agradecida a Vós, Senhor,
Que me fizestes necessário e humilde.
Sou o milho.
O Jornalista angolano Alberto Chakusanga, locutor da Rádio Despertar, uma voz crítica ao governo foi silenciado com um tiro pelas costas, com uma arma silenciosa. O assassinato aconteceu na sua residência após uma suposta longa conversa com o autor do crime que levou consigo um botijão de gaz (?). Para coroar a covardia o assassinato aconteceu no dia em que o mesmo havia deixado sua esposa no hospital para dar a luz ao filho que nasceria nesse mesmo dia. Mais de uma semana depois do ocorrido as autoridades angolanas continuam no mais absoluto silêncio sobre este assunto. Assim andam as democracias em África, em "países irmãos", nos quais nos lambusamos e aos quais somos incapazes de dirigir palavras críticas. Para nosso consolo, na "avançada" democracia caboverdiana, os jornalistas são silenciados com outros métodos, supostamente menos violentos. São empurrados para a auto-censura e para outros becos sem saída ou, na melhor das hipóteses, se silenciam vergonhosamente por conta própria dando assim a sua valiosa contribuição para o "teatro da democracia".
A irreverência do pensamento e a simplicidade de linguagem do Mário Quintana
Neste último fim de semana comentava com amigos a minha dificuldade em ler determinados poetas caboverdianos, apesar de um insistente esforço nesse sentido. Dizia-lhes que considero a escrita poética como uma actividade essencialmente intuitiva e lúdica e que, quando nela se põe muita "racionalização" ela se descaracteriza e se torna fastidiosa para o leitor e, acredito, até para o poeta. Um poema não é um teorema. A arte como dizia Freud está exactamente na conta-mão da civilização que é movida pela razão. A criação e fruição artísticas juntamente com o sexo salvam o homem da prepotência da razão e o proporcionam uma grande liberdade ao abrigo do principio do prazer, principio este que é preciso sancionar para a instauração da civilização.
Recorrendo a imagem do último post do Paulino Dias (http://blogdopaulino.blogspot.com), Cabo Verde parece o reino das máscaras . As pessoas levam seus papeis sociais e suas idiossincrasias muito além do necessário para o circuito das trocas socioprofissionais e vivem um faz-de-conta permanente e desnecessário. A falta de autenticidade, de espírito lúdico e do bom humor esteriliza as pessoas e os torna menos humanas. Para além disso é uma grande ilusão a suposição de que o ser humano seja essencialmente um ser racional. A inteligência é essencial mas, só o é a mistura com as emoções e com a intuição. A tentativa de subjugar estes últimos é sinónimo e burrice e de uma profunda incompreenção da vida e da existência humanas.
Essa minha verborreia me fazem lembrar a irreverência e o linguajar de Mário Quintana, um dos poetas que considero que se deve comer quando se gosta da arte. É um dos que escreve como se estivesse simplismente respirando:
Ruados Cataventos
Escrevo diante da janela aberta. Minha caneta é cor das venezianas: Verde!... E que leves, lindas filigranas Desenha o sol na página deserta!
Não sei que paisagista doidivanas Mistura os tons... acerta... desacerta... Sempre em busca de nova descoberta, Vai colorindo as horas quotidianas...
Jogos da luz dançando na folhagem! Do que eu ia escrever até me esqueço... Pra que pensar? Também sou da paisagem...
Vago, solúvel no ar, fico sonhando... E me transmuto... iriso-me... estremeço... Nos leves dedos que me vão pintando!
Mario Quintana - A Rua dos Cataventos
Auto-retrato
No retrato que me faço - traço a traço - às vezes me pinto nuvem, às vezes me pinto árvore...
às vezes me pinto coisas de que nem há mais lembrança... ou coisas que não existem mas que um dia existirão...
e, desta lida, em que busco - pouco a pouco - minha eterna semelhança,
no final, que restará? Um desenho de criança... Corrigido por um louco!
Mário Quintana (Apontamentos de História Sobrenatural)
...e depois atira com a irreverência que lhe é característica: "Quando alguem pergunta a um autor o que ele quis dizer, é porque um dos dois é burro". Nos casos que me referi faço votos que seja eu o jumento.
Passou delicadamente sobre seu corpo desnudo procurando não a acordar caso dormisse. Ao ler seus movimentos ela cerrou os olhos fingindo-se adormecida. Seus perfumes a mistura com o odor dos seus corpos pairava no cómodo de janelas e porta escancaradas. Movia-se suavemente como uma pluma sustentada por uma leve brisa misturava-se com o odor da natureza janela afora retornava e invadia displicentemente seus alvéolos e sua libido deixando uma réstia de desejo e de torpor no ar.
Pegou a taça com um resto de vinho remexeu no casaco e puxou a cigarrilha e o isqueiro. Lá fora a folhagem baloiçava com suavidade compondo uma sonâmbula melodia que a um tempo o acalentava e o angustiava ao empurrá-lo para uma espécie de reflexão tépida sobre os sentimentos que o nutriam ou que o deveriam nutrir. Reviu sem entusiasmo a sua história e reflectiu se seu instinto de caçador havia de aniquilar mais uma vez a sua motivação inicial. Sentado no parapeito enxotou esse pensamento como a um insecto indesejado. Pensou que haviam de encontrar um meio-termo e haviam de se entender.
Era Novembro em suas almas. Em seus corpos lua nova. Na cama, apoiada na mesma posição que ele a deixou, com uma mão sob a macia face direita e a outra sobre o sexo desnudo ela rememorava aquela longa viajem de Tóquio à aquele vale místico da ilha que povoara durante todos aqueles anos de peregrinação pelo mundo suas memórias, a um tempo reais e fantasiosas, das raízes perdidas da sua infância que, não obstante a sua idade, lhe parecia longínqua. Sorriu maliciosamente e pensou: “tanta saliva e, sobretudo, tantas horas de voo para uma tão adiada e fantasiada queca…”. Pensou e adormeceu. O cansaço, o vinho e uma espécie de saciedade a conduziam nua por um florido labirinto que desbocava num enorme precipício de cúmulos-nimbos onde observava a sua própria nudez que decaía de costas com os membros eternamente abandonados numa madrugada estranhamente silenciosa de um sono infantil.
Terminou a garrafa de vinho e ligou o telefone na expectativa de que seus receios não se concretizassem. Uma hora depois, das janelas do Catamarã avistava a baia do Porto Grande, seus contornos nitidamente desenhados pela luz artificial e pelo silêncio da madrugada. A esse tempo a brisa do vale ganhou força por breve instante e fez-se vento como um ignóbil destino. A folha de papel rodopiou na penumbra do quarto sobrevoou o corpo da moça saiu pela janela e pairou esbranquiçada sobre o jardim. Dir-se-ia uma garça na noite. O ventou terminou tão repentinamente como começou. A brancura do papel perdeu seu motor e deixou-se cair em baloiço até atingir o pequeno lago em que repousava temporariamente o regato quase silencioso. Ela puxou o cobertor, mudou de posição e se aconchegou.
Na sala de espera dos voos domésticos do aeroporto da Praia ele respirava aliviado pela celeridade com que conseguiu resolver tudo aquilo e também por se esquivar daquela algazarra desconfortável da capital. Cansado e faminto o consolava a ideia que ainda chegaria a tempo de um jantar tardio em Chã de Igreja antecedido do seu aperitivo habitual e seguido de um bom vinho, uma boa conversa e uma bela noite de amor… talvez Nice, porque não - pensou. Seus pensamentos foram interrompidos temporariamente pelo ruído dos motores do Airbus que acabara de se descolar. No mesmo avião ela procurava uma posição que lhe permitisse algum conforto na cadeira e pensava com um misto de tristeza e de raiva: “que se dane!”.
Dirijo esta missiva à vossa senhoria com toda humildade e respeito requeridos à um subalterno. O motivo a ela subjacente é um intermédio entre desabafo e reclamação. Vossa senhoria há de me perdoar de antemão tamanha ousadia. Porém, a abolição da figura paterna nestas ilhotas transformou em bagaço, em fantoche e, em outros adjectivos que não ouso pronunciar temendo a vossa justa reprimenda, aquilo que seria a autoridade. Vós que sois autoridade suprema entendeis o caos gerado por uma tal ausência, o qual vai da anarquia à incivilidade. Então, não me resta outra alternativa se não dirigir-me a si.
Porem, não pretendo vos maçar com rodeios de linguagem e verborreia inútil dado o avolumado e a urgência de actividades que ocupam vosso eterno tempo nas Guinés, no Afeganistão, no Iraque, na cidade da Praia, enfim...Vou directo ao ponto.
Em primeiro lugar quero agradece-lhe a gentileza de não me ter convidado a festa de comemoração da vossa vitória. Pelo volume do som e pelo entusiasmo presumo que tenha sido mais um pleito bem sucedido com aquele de quem não devemos pronunciar o nome, aquele que aguarda pachorrentamente nossos ministros e presidentes lá nas profundezas. Agradeço sim porque, o estilo musical a mistura com aquela desafinação toda não são exactamente o que me agradaria de modo que seria uma tremenda “seca” se eu lá fosse.
Cheguei em casa cansado depois um dia de trabalho. Para efeitos de clarificação digo-lhe que trabalho significa também circular pelas ruas esburacadas, feias e fedorentas desta cidade e encarar o cenho mal-humorado dos praienses, incluindo o meu. Dizia que regressei cansado à casa no fim do dia mas, bem-disposto. Assim, me apetecia escancarar as janelas (com rede!) para minimizar o calor sufocante e cozinhar um "rango" com um allegretto de Vivaldi nos ouvidos e uma taça daquele tinto na mão, aquele que vossos intermediários tanto apreciam.
Tal capricho não me foi de todo possível dado o ruído ensurdecedor da vossa comemoração que se prolongou noite dentro. Fazendo um parênteses fiquei surpreendido pela positiva ao saber que sois apreciador do estilo “hip hop”. De qualquer modo peço-lhe encarecidamente que na próxima celebração baixem um pouco o volume do som para que não se propague tal longe e tão intensamente como ontem.
Por outro lado queria pedir-lhe perdão por ter me referido aos seus seguidores com aquelas obscenidades e por desejar que fossem ter com o maior inimigo de vossa senhoria lá nas profundezas.
Para não me esquivar de dar notícias da Praia digo-lhe que fui fazer o meu “footing” matinal devidamente lambuzado de um repelente “fedorento” e que, nas águas paradas das valas e “riachos” habituais desta cidade, tão habituais que até parecem patrimónios culturais, temos nos empenhado com o todo o necessário afinco na preservação de espécies da vossa autoria como sejam o “aedes aegypti” e todos o seus primos, bem como de outras espécies rastejantes, voadores, roedores e microscópicos. Preservamos também, imbuídos do mesmo espírito ecológico, a espécie dos "políticos descerebrados". De modo que se por um infortúnio qualquer ou, se por decisão justa e suprema, se fizer perigar a existência de tais seres e, por imposição vossa for imperativo uma arca semelhante ao do brioso Noé, com a morabeza e solidariedade que nos são característicos cederemos de bom grado vários exemplares de tais espécies à vossa senhoria.
Quanto a mim, pessoalmente, estou bem excepto a minha luta com um parasita que recebi de bónus na “água potável” da Electra durante a minha inglória pretensão de escovar os dentes. Trata-se de um prémio justo creditado à um cliente que paga de modo alienado e sempre atrasado, também sem muita reclamação, toda a super facturação que me é imposto carinhosamente.
Meus respeitos.
Assina vosso Servo.
PS: Alegra-me saber que expressões como “sab pá cagá” tipicamente mindelenses já fazem parte do vocabulário badio e, particularmente, do vocabulário de vossa senhoria e dos vossos zelosos seguidores.
Feliz descoberta para mim a pintura/poesia de Bia ou, se quiserem, de Rosário Gomes como consta na net (http://rodesignarts.blogspot.com). Há muito que ouço falar da obra dela pela boca de amigos e familiares. Hoje, superando a minha terrível impaciência com o computador encontrei-a nessas trilhas do mundo...felicidades a nossa Rosário e a toda a nova geração de artistas, no caso específico, de Santo Antão, que necessariamente são homens e mulheres do mundo, como o Bento Oliveira, o Teodoro Campos e outros e, de Cabo Verde em geral, e das artes em geral para que possamos desbravar trilhas humanistas, um pouco mais humildes do que as que temos engendrado, para encetar a necessária fuga a essa engrenagem metálica que quer nos coisificar e nos esmagar como se nos faltasse dom para sermos homens e mulheres.
...actualmente quando vou à Santo Antão passeio pelas montanhas e veredas em jeito de refúgio e de regeneração. Por vezes, resgato memórias e impressões, um pouco nostálgicas, inscritas em mim e na familiaridade das paisagens. Memórias de uma infância e juventude felizes e vividas em liberdade e comunhão com a natureza...
...o latido distante de um cão, o cumprimento ao longe de duas mulheres, o berro breve de um cabrito, o som opaco de uma enxada em luta com a terra ressequida, o rugido monótono de um motor, a água caindo algures, o voo breve de um insecto, a imprevisível brisa nas folhas do canavial podem ser o pano de fundo de uma introspecção quase imperceptível, uma espécie de vivência onírica...de repente o olhar encontra-se com cores e contrastes. Demora-se...retiro do bolso do short a maquineta do "tipo apontar e disparar" que agora substitui a velha Pentax Asahi e registo um momento de intimidade, de quase nudez... que agora começo a partilhar!
Carlos Drummond de Andrdade, um dos poetas que me encantam pela simplicidade da linguagem e pela escrita intuitiva, sem "racionalismos" e sem disfarces de dicionário, "assim como a vida é!" como diria Raduan Nassar, um dos maiores da literatura lusófona, com "um olho nos livros e um olhão na vida..."
...José na voz do próprio Drummond!
José pode ser meu pai, um homem que foi imitar a alvura dos gelos da Escandinávia e trouxe-a nos seus cabelos de há muito brancos , um homem que guarda na sua retina a memória do respeito com que os noruegueses o trataram em quase três décadas de emigração. Respeito que em grande medida só pode granjear em recordações, pois, por aqui é geralmennte "improcedente". Mas também pode ser João, como o fino artista/pedreiro Junzin d'Polina a quem me afeiçoei profundamente só de ouvir suas estórias na voz do seu e do nosso Paulino Dias, pode ser também João do Carmo do alto da sua serenidade e do seu espírito jovem e empreendedor. Pode ser Nhe Crulin, Nhe Fidjin, Manuel, António, teu pai, minha mãe, minha tia, todos octogenários, enfim, um sem número de heróis anónimos que verdadeiramente desbravaram com os seus dedos, em carne viva, esta terra inóspita e nos legaram trilhas heróicamente abertas, na mente e nas ilhas ressequidas. Trilhas essas que ainda não tivemos a humildade e a sereneidade necessárias para as entender e seguir!
Veredas da Saúde Mental, que estranhamente relutamos em trilhar, enquanto reduzimos a EXISTÊNCIA HUMANA a frivolidade de sinapses e neurotransmissores! Eis um dos muitos exemplos que o Brasil e outros paises da América Latina podem nos proporcionar.
Esta experiência da Colónia Juliano Moreira se soma à outras como aquelas lideradas pela Nise da Silveira (www.museuimagensdoinconsciente.org.br) através da qual revolucionou preceitos e paradigmas sobre a loucura/sanidade mental, e abriu brechas para que artistas como Emigdyo de Barros, Raphael Domingues, Fernando Diniz e tantos outros desenvolvessem e revelassem suas potecialidades ao revés da incómoda veste de loucos.
Ao contrário da ladainha "saúde é um estado de bem-estar físico, mental e social..." preconizada pela OMS e repetida sistematica e inadvertidamente por todos nós, a saúde é um processo dinâmico e dialéctico não se reduzindo a essa pretensa condição de "estado", muito menos aos extremos saúde e doença. E, tem no seu âmago componentes sociais muito mais preponderantes do que aqueles que admitmos. Quando se trata da saúde mental a componente política e família, no sentido do jogo de poderes é muito forte. As componentes fisiológica, constitucional, psicomotor, etc. são relevantes mas, reduzir a saude à um biologismo mecânico é uma grande trapaça. Infelizmente protagonizada e defendida por muitos "técnicos" da saúde, incluindo os nossos.